O que é um vampiro? (VII)

Sylverë ap Leanan está envolvida na comunidade vampírica desde meados dos anos 1990. Ela é a facilitadora de um dos mais antigos grupos de apoio da comunidade na Internet, a Aliança Comunitária Vampiros Reais. Ligada orininalmente à Aliança Vampiro/Doador, Sylverë apareceu no documentário para a televisão britânica American Vampires e no programa de rádio via Internet Nightwatch. Mãe de dois filhos, vive em Kansas City com sua família.



Sangrar ou não sangarar
 O que torna um vampiro real?
por Sylverë ap Leanan

Você é um vampiro se beber sangue humano? Ou você é um vampiro se você se alimentar de energia? Ao longo dos meus anos de envolvimento com a comunidade vampírica, ouvi tantas vezes a discussão do bebedor-de-sangue contra o cevador psíquico que já se torna quase fora de moda. Mesmo assim, ainda tem a capacidade de enfurecer a ambos os grupos e iniciar muitas agressões verbais entre aqueles que participam ativamente da comunidade. Confesso que nunca entenderei por que há esse debate, muito menos por que os sanguinários parecem sentir que ingerir sangue de alguma maneira, os eleva a um estado superior. Para entender minha perspectiva, o leitor tem que entender primeiro minha definição de vampiro e como eu cheguei à conclusão que eu sou, de fato, uma vampira que alimenta-se psiquicamente.

Um vampiro é uma pessoa que sofre uma deficiência em energia que não pode ser atribuída a qualquer causa médica como leucemia, lupus, hipoglicemia, porfíria ou vírus de Epstein-Barr; nem ser visto como resultado de se dedicar a práticas de artes mágickas excessivamente. É uma deficiência que não pode ser aliviada através de metodos normais, incluindo gestão de uma dieta balanceada, descanso e contato social rotineiro com amigos. Essa deficiência só pode ser corrigida ingerindo sangue (geralmente humano) ou de outros fluidos corporais, ou absorvendo energia por várias práticas meditativas, espirituais ou "psíquicas"

O vampirismo é a condição que causa a necessidade de - e o ato de - obter e ingerir fluidos corporais humanos com a finalidade de ganhar energia viva (prana, alternadamente chamado chi, ki ou respiração) contida neles ou de absorver essa mesma energia por meios psíquicos e/ou espirituais, de modo a manter a pessoa saudável. Algumas pessoas podem realizar práticas semelhantes às de um vampiro, mas estas não são vampiros reais se a necessidade constante de fazê-lo para manterem-se saudáveis não está presente. A diferença é sútil, e é frequentemente omitida ou mal-entendida por aqueles que na verdade não são vampiros.

Todos os vampiros requerem energia viva acima e além do que geralmente é considerado normal para um ser humano. A única diferença são os meios pelos quais eles a obtêm. Enquanto alguns vampiros preferem ou precisam de sangue, outros são mais adeptos a tirar a energia de outras fontes ou têm uma preferência por isso. Essas fontes podem incluir, mas não são limitadas a isso, a energia ambiente de uma grande multidão, fontes naturais como tempestades elétricas ou água corrente, estados emocionais intensos de pessoas próximas, energia sexual ou a energia de artistas no processo de execução ou criação.

A partir de minha observação e experiência, eu proponho que não haja nenhum conjunto específico de sintomas comum a todos os vampiros, além da inabilidade de produzir energias suficiente para satisfazer as necessidades do corpo pelos métodos habituais de dieta balanceada, descanso e recreação. Muitos vampiros exibem características como a sensibilidade extrema a luz ou temperatura (mas não ao ponto de reduzi-los a cinzas), um sentimento persiste de fome ou sede que não são aliviadas através de comida, água, ou efeitos de saúde precário como enxaquecas, náusea ou fadiga crônica, porém, outros vampiros não experimentam esses sintomas, ou os experimentam em um grau muito menor. O fator definitivo para determinar se alguém é um vampiro ou não é a deficiência de energia persistente que não pode ser explicada nem curada através da medicina ocidental.

Não há nenhuma evidência médica totalmente crível para sugerir que nós, como vampiros, abriguemos uma vírus desconhecido, carreguemos uma mutação genética, soframos de uma de uma deficiência enzimática ou de vitaminas, ou tenhamos uma mitocôndria faltando ou falha. Nós não somos descendentes de uma subespécie antiga de proto-humanos que cruzaram com humanos modernos, nem uma raça alien que cruzou com humanos pré-históricos. Eu vi muitas reividicações Homo sapiens normais e geralmente saudáveis, e pronto. Minha filosofia pessoal atribui a causa de vampirismo a um ponto de vista espiritual, mas é melhor deixar isso pra outro artigo.

Sobre como eu sei que sou uma vampira, posso dizer que, por anos, fui testado para inúmeras enfermidades - de diabetes a hipotiroidismo, de anemia a HIV. Fora uma tendência para pressão baixa (mais baixa que o normal, mas ainda saudável) e hipoglicemia limítrofe, manti tudo isso em segredo até agora, cuidando de minha dieta, eu sou tão saudável quanto um cavalo, como diz o ditado. Eu recebo acompanhamento de um psicólogo. Apesar de ter desordens afetivas eventuais, nenhuma dessas condições é responsável pelos sintomas físicos debilitantes que eu experimento quando não me alimento. Beber sangue não os alivia. Porém, ao absorver energia psíquica de outra pessoa, esses sintomas desaparecem. Eles ocorrem periodicamente, de maneira cíclica, normalmente uma vez cada, de duas a quatro semanas, e piora quanto mais longo for o intervalo entre as sessões alimentares. Já que não existe nenhuma outra explicação, eu posso concluir logicamente, que sou uma vampira.

Agora, de volta à discussão de obter energia psíquica versus beber sangue. Nem todos os vampiros precisam consumir sangue: dizer o contrário é no mínimo tolo. A ressonância espiritual da energia encontrada no sangue não pode satisfazer as necessidades de todos os vampiros suficientemente. Alguns de nós requeremos uma "frequência" mais alta ou energia em um estado mais puro para obter algum benefício. Outros, simplesmente escolhem adquirir a energia de que eles precisam de outras fontes devido aos potenciais riscos para a saúde associados a beber sangue. Isso não impede que aqueles muito reais precisem se alimentar, porém. Nós não morreremos se não nos alimentarmos. Nem mesmo o vampiro que escolhe beber sangue morre por sua falta. Nós só seremos pessoas sem saúde, miseráveis e nada agradáveis até que nos alimentemos.


Até onde sei, não só é errada a reivindicação que cevadores psíquicos são de alguma maneira menos "reais" que os bebedores de sangue, mas também é cruel. Muitos vampiros já se sentem marginalizados em um mundo que nos considera loucos, se não perigosos. Para esses que declaram que o único vampiro real é aquele que bebe sangue, eu pergunto: quem você acha que é para acreditar que tem o direito de cometer essa insensibilidade ao nos excluir baseado somente em nosso método escolhido de adquirir a energia que nós precisamos? Poderia ser argumentado que a alimentação psíquica é o método mais válido porque evoluímos além da necessidade por técnicas grosseiras como beber sangue. São nossos gostos rarefeitos e abordagem mais esclarecida que nos fazem os "verdadeiros" vampiros. Porém, eu não vejo razão alguma para chegar a esse nível. Isso não o roto falando do esfarrapado? Eu sei quem sou, e eu estou segura o bastante que estou além da tolice desses que querem desacreditar minha realidade pessoal. O que eu não entendo é porque alguém acredita que humilhar seus semelhantes é um meio aceitável de sentir-se especial
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Definições:

Sanguinário: derivado da palavra latina sanguis, sangue, um sanguinário é uma pessoa que bebe sangue. Um termo mais comum é vampiro sanguíneo.

Porfíria:
doença ligada aos contos folclóricos sobre vampiros e lobisomens como explicação possível para a origem desses mitos. Doença hereditária que afeta a medula óssea, e por isso o sangue, a porfíria pode tornar a pessoa extremamente sensível à luz. Existem histórias, talvez anedotárias, de que a porfíri causa desejos por sangue humano. A doença pode deixar os dentes com coloração enferrujada, dando a impressão de que o paciente bebeu sangue. Não há evidências de que qualquer membro da comunidade vampírica moderna sofra de qualquer forma dessa doença.

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